domingo, 20 de dezembro de 2009

Pobre vaidade

I
Ela tinha o caminhar leve dos alcoólatras.
Uma estreita faixa rubra de batom seguia
se alastrando na boca sem dentes: vazia.
mas sorria ainda, com o sorriso dos hipócritas.

Na alma, moribunda e maltrapilha, a desgracença
nos poros, absorvia a ciência trágica do dia
e no peito, dessa louca, que outrora vadia
fazia assim: um olho na vida, e outro na descrença.

Essa amante dos sibaritas, levou nas costas um peso -
Uma corcunda horrenda e a falta de alguns inúteis dedos.
E na boca uma estreita faixa de batom avermelhado,

com o rosto deformado e as vestes em retalho
engolindo a ânsia d'um coração cuspindo escárnio,
via-se ainda um orgulho de quem já tinha amado.

II
Correspondia a todos os olhares das ruas...
Olhava, sorria, e o peito inchava de orgulho.
Com o sorriso murcho de novo, voltava ao entulho.
E no monturo, que se encontrava, estava ela, nua.

Sobre o reflexo solar: que é a lua, lavava-se.
retirava as lepras e escárnios do dia imundo.
Mas na boca permanecia ainda o batom rubro
e no olhar o sorriso de posse da vaidade.

Encerrava-se em si mesma, como inseto morto.
vivendo, assim: a noite gente e de dia estorvo.
e ainda ouvindo gracejos, tais, -"Puta!", "puta"...

Oh! Senhora, ser dos sonhos monstruosos,
ainda assim infla o peito de amores incestuosos...
e sorri ainda para os pobres que te insultas.

domingo, 22 de novembro de 2009

A mosca

Estava acima, no teto, a espreitar-me.
Monstro azul, enorme: - confesso, tinha medo.
E Isso ai, que engolira meu sono e sossego
Zumbia com desdém e vingança, a circular-me.

E circularmente, subia e descia, e pousava
sobre o teto em que ela dominava e,
a cada elipse, sinuava-se em um pouso provocante
e provocava meus nervos: parte dissecante.

E num pouso extraordinário, depositou
em meu corpo áspero, uns ovos ao acaso
e como quem confia, voou e esqueceu do fato.

Mal saberia ela, que em mim depositava as
esperanças futuras, de um dia, eu morto,
renascer nos ossos e vísceras, um bicho desse novo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma prostituta

Doa a todos a sua virilidade e só pede em troca,
alguns trocos. O que pode siguinificar pouco...
Passa a ser muito para uma massa, para um todo.
Para ela, ser o que É, é só para alguns seletos.

Seu corpo causa tanta ostenta, que alcooliza,
causa fome, fadiga e no fundo conformiza...
É perversa para os que não a consomem.
Ah! Senhores, oportunidade tem poucos homens.

Busca-se então outra possibilidade...
Um vigor tal, não pode ser assim, tão selvagem.
Domar e sugar seu seio murcho e farto.

É para ser prazer de todos, isso, amigos, é fato.
Explora-la, consumi-la, aproveita-la, não basta.
A ela paga-se uma chance e a espera numa fila.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

Ao suicida


Forca, balas, afogamento, precipícios... martelo.
Inúmeras ferramentas para concretizar teu gesto.
Para esse feito é necessário dois pontos virtuais
e metafisicos motivos, diversos fatores causais.

Há quem diga que teu desejo nada justifica.
Justifica a fadiga e o mal que carregaste em vida:
esse peso que em vão arrastou-se moribundo
em sequelas triste se depreciou... ficou nulo.

Será claro, na tangencia de sua virtuosidade,
o objeto concretizador desse latente ensejo
Um revolver, uma faca, uma corda... crueldade.

Impulsionado por um ato encorajadissimo...
E no inconciente de quem fica: uma gota trágica...
Na carta deixada, o sangue coalho e um profundo egoísmo.

domingo, 27 de setembro de 2009

Ao odor das coisas

De tudo se sentia um cheiro peculiar
e foi registrado na epigenese à memória
uma combinada coleção "viscosa" de ar
e disso expeli e absorvi, se não, sucumbiria.

Lembro-me de substancias extensas:
um esgoto, um jardim... a oxigenese austral.
A Asmática influencia de tais lembranças
Registradas no hipocampo desse cérebro fetal.

Na vida há um Odor Belial superexcitador
de quem um dia possuiu um olfato de infante.
E sussurro revelando um futuro estimulador:

- Deixo vivo em odores o que causa delírio.
Aos meus filhos, eu podre a feder... assimilando
à tristeza do caixão ao cheiro reconfortante dos Lirios.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A pureza (Nietzsche)



É da moral precária que se alimenta o mundo.
foi dito na caverna, que o instinto esta em desuso.
é uma selvageria só, essa fétida décadence.
o homem, nessa moral: o niilismo em que se prende.

Jaz em fim, o antigo "instinto de rebanho".
Os desgarrados, caem no abismo, e eu, os acompanho.
mas a margem da sabedoria suja, emerge...
os puros - nem bem, nem mal - Übermensch!

Notas?... - Estamos reduzidos a números.
e com a fatal decadência de teus membros.
há de brotar um Ser máximo, um ser puro.

A Verdade não mais será de quem mente.
Espero dormindo, e despertarei nesse dia augusto,
em que o homem será alem, será ele mesmo; o mundo.

Darlan Delarge.


sábado, 8 de agosto de 2009

A infância

Em meu peito trágico, põe-se a bater
o instinto tranquilo de um infante.
Ah! esse pálido encéfalo a acender
com a alegria de passados instantes.


Tranquilo, numa paz oculta sem saber.
Lembro, era assim que o mundo deveria ser:
puro, inocente, virginal e pandega.
Há fome independente do que se coma.

Na nostalgia do meu incurável ser, aparecia,
Precoce conclusão. No reumático estalo de ossos
A velhice como castigo de um cardíaco coração.

É espantoso como no fim somos todos, assim,
Pele e osso, compondo uma infeliz totalidade:
Doença e Alegria corroendo, e isso, chamamos: saudade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sobre o crime e a compreensão

Da profundidade do seu conjunto ósseo
Advinha a mais abissal compreensão.
Compreendia: coisa que no homem é fóssil,
A conjectura carecente da traição.

Quando numa noite quente ao chegar em casa,
mal saberia, a cólera que seu coração talha,
ao presenciar o desafio, que o levará a desgraça.
A mulher, leviana, a trocar caricias: - canalha!

E ao agarrar a mais próxima arma: um pau.
Desferiu-lhe, no crânio, um golpe mortal.
E como quem desperta de uma quimera absurda.

Viu na Amada, Epiléptica, a demasia do mal.
Foi a morte, que numa noite clara, empalideceu?
Foi deplorável, o que o homem, tarde, compreendeu.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre a poesia

Em um poema sempre ira existir algo que se encaixe, pois, como é de sua natureza é parte retirada de algo/alguém, é como um membro, um órgão: parte indispensável, e que sempre vai ter a quem ou a que servir, portanto vital. Em mim ele seria, a ânsia, o corpo estranho expulso do meu estômago (vómito) ou do meu cérebro (o Éter).

domingo, 5 de julho de 2009

Do Subsolo

Todo Ser vem do Subsolo?!
Eu que te respondo em mentira,
então, me repudio e me consolo,
Ele! Ilumina-me, e por fim se retira.

Projetado como estrume no solo,
delicado ao nutrir a planta,
deixa escorrer seiva de suas entranhas,
ejaculando no útero da terra, um óvulo.

Como broto no chão surgi, um ser estéreo:
é o mundo que o nutri: é Ele o paridor!
é quem goza em nós todo o liquido etéreo.

Ergue gritando, como quem sente dor,
sagaz como a nobreza de quem mente,
No Subsolo, ah! Nem sempre brota essa Semente.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A um amigo

Caiu. Acordou como um novo ser em parte,
Tornou-se parte da imprudência incontestável do chão
atraído por gravidade: newtoniano desastre.
D'Um mártir! Eu, amigo, desconheci tal coração.

Levantou. Superando o assoalho de pedra erguendo-se então
Com a força sobre natural do organismo,
sobre sepulcros aéreos, de duvida enchendo as mãos.
Alheio, movo as lágrimas num Triste mecanicismo.

Argonauta. Assentado ao som do Silêncio ao pé do viaduto,
vislumbrou o voo, num delírio de Defunto,
abraçou a Esperança, - coisa que não sustento em Luto.-
desejou virar memória, assim, como moribundo.
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*Assentado ao pé do silencio ao som de "Come together"
Vislumbrando o voo, num delírio: coisa secreta
abraçou a esperança, como a criança a um adulto
desejou virar memória, em vez de só mais um no mundo.

E voou para o infinito como Morrison, ou Ian Curt,
Permaneceu como infindável Defaut.
É isso, meu velho, como no amanhecer á bela tarde vazia.
final, foi como essa luz que tu metafisicamente tornar-se poesia.

*parte acrescentada e alterada do poema para um sarau